domingo, 13 de maio de 2018

Apoftegmas: a sabedoria dos antigos monges



Ed.: Lumen Christi
Rio de Janeiro, 1979

Texto Flávio Rissas


Em "apoftegmas" encontramos um mundo que já não mais existe. 

O livro consiste numa coletânea de textos feita, a julgar pelos dados contidos
na introdução do mesmo, por volta do século V, no espaço geográfico
que hoje compreende a Grécia e o Egíto, sobretudo. 

Em sua maioria, são pequenas histórias, e nem sempre seu fundo moral é de fácil
compreensão, e é exatamente isso que torna a obra interessante.

Nós outros, os que vivemos sob o paradigma burguês da produção e do
consumo, dificilmente compreendemos como virtuosa uma vida dedicada,
tanto quanto possível, ao ócio; não que os monges não trabalhassem.

Sim, eles trabalhavam. Alguns viviam em comunidades (Cenobitas)
auto-sustentadas; outros, produziam artesanato manualmente para trocar
por víveres e bens de primeira necessidade. Mas não satisfazer mais
que as primeiras necessidades era visto quase como a essência do
Cristianismo nesse tempo - tempo que não existe mais, como dizíamos;
hoje, boa parte dos cristão considera que a essência de sua fé
consiste em ter uma boa vida financeira, luxo e que tais...

 Alguns textos merecem citação, embora não o farei literalmente. A um
Abade, Arsênio, se não me engano, foi dito, quando o mesmo pediu a
Deus que lhe indicasse o caminho reto da salvação: "foge dos homens e
serás salvo". Outro, ao avistar um dragão (toda consciência
mistificada é dada a mistificações!) no deserto, pôs a correr, não por
medo do animal, mas para que seu destemor não viesse a ser uma pedra
de tropeço. Outro ainda, ao ver uma prostituta lindamente vestida,
chorou - supunha-se menor digno de consideração que a moça, pois ela
se dedicava mais a seus místeres que ele, monge, à devoção ao
digníssimo! Outra história ainda nos dá conta de que, certa vez, houve
grande tribulação na terra habitada por alguns monges, o que os fez
sair e procurar o Abade; eles queriam procurar outro lugar. Então,
assim que soube disso, o Abade de nome Amonas os aconselhou a voltar
ao lugar, e os consolou (?) dizendo que as tribulações humanas nenhum
mal poderia fazer à suas almas!...

Por fim, vale a pena uma citação tirada do texto. Ei-la: "Disse o
Abade Isidoro: é esta a ciência dos santos: reconhecer a vontade de
Deus.O homem, obedecendo à verdade, se torna senhor de todas as
coisas, pois ele é a imagem e semelhança de Deus.O mais terrível de
todos os espíritos é o de seguir o próprio coração, isto é, o próprio
juízo, e não a lei de Deus.

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